É hora de defender a legalidade!
-- Virus “Cunhas” infecta a crise
6/7/2015 15:00
Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro
Por Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro
Os
jornalões e os telejornalões estão apresentando o Brasil mergulhado no
abismo. As edições diárias mostram um quadro catastrófico, sendo que
alguns colunistas não escondem o objetivo de detonar a Presidenta Dilma
Rousseff.
O quadro é de crise política estimulada pela mídia conservadora, como pode se verificar através de vários exemplos.
Na edição do último domingo, Élio Gaspari, herdeiro
dos arquivos do coronel Golbery do Couto e Silva e do general Ernesto
Geisel repete diversas vezes o que tinha dito na edição do dia anterior o presidente reeleito do PSDB, Aécio Neves Cunha.
Élio
Gaspari, parecendo ter baixado nele o espírito maligno do coronel
Golbery, perguntou inúmeras vezes em sua coluna se Dilma conseguirá
completar o mandato de quatro anos. Golbery, o eterno golpista, não
faria melhor.
Na
mesma linha, o imortal Merval Pereira diariamente reproduz reflexões
que objetivam convencer os leitores que Dilma Rousseff não vai resistir
por muito tempo. Para ele, o governo chegou ao fim.
Veneno dos telejornalões
Nos
telejornalões o noticiário não fica muito atrás em matéria de
apresentar o país em crise violenta e sem perspectiva. É a tal coisa,
como o papo catastrófico tem se repetido constantemente, o telespectador
acaba convencido de que o Brasil caiu mesmo no abismo. É a técnica de
Joseph Goebbels, o responsável pela propaganda do III Reich nazista com a
utilização da técnica de que uma mentira repetida várias vezes acaba
virando uma verdade.
Fazendo dobradinha com o noticiário catastrófico, na área política, além de Aécio Neves Cunha*, um outro Cunha, o Eduardo, que preside
a Câmara, visivelmente passou dos limites. Tornou-se um câncer político
a ser removido. E sob pena de se não o for acabar tornando-se uma
metástase que fere de morte todo o corpo político.
Os dois Cunhas, segundo o noticiário, têm se encontrado, o que é um mau sinal para a democracia brasileira.
Neves
Cunha até hoje não se conforma com a derrota sofrida no segundo turno
presidencial, em outubro do ano passado. Já o presidente da Câmara dos
Deputados conseguiu, através de manobra torpe que os parlamentares
aprovassem, mudando de opinião em menos de 12 horas, a redução da maioridade penal para 16 anos.
Eduardo
Cunha subverteu o regimento que impede a votação de um projeto
derrotado numa mesma legislatura. Graças a esse jogo sujo, a vingança
venceu e se isso prevalecer na votação no Senado e novamente na Câmara,
os menores entrarão nas prisões com canivetes e facas e lá vão se
especializar no uso de revólveres e metralhadoras. Ou seja, entram de
canivete e sairão de metralhadora.
A
manobra de Cunha, segundo o próprio, teve por objetivo satisfazer a
opinião pública apoiadora da redução da maioridade penal por estar
envenenada pelo espírito de vingança, com o apoio da mídia conservadora.
Como
se não bastasse, o defensor incondicional da continuidade do
financiamento empresarial das campanhas políticas fez o possível e o
impossível, manobrando, para que fosse aprovado recentemente esse fator
de corrupção.
Em causa própria
Na
verdade, Eduardo Cunha se empenhou em causa própria, porque em sua
campanha, segundo a revista Galileu, ele obteve financiamentos
empresariais dos mais diversos, inclusive da Ambev (Companhia de Bebidas
das Américas), produtora e comercializadora de cervejas. Ambev, por
sinal, de propriedade de Jorge Paulo Lemann, acusado de financiador de
um esquema golpista.
Nesse
sentido, cabe uma pergunta que não quer calar: sendo Eduardo Cunha um
notório evangélico, como se explica ele ter aceitado que uma entidade
cervejeira tenha doado um milhão de reais para a sua campanha? Pode ser
que para neutralizar esse apoio Cunha tenha aceitado, como consta também
da Galileu, 550 mil reais da Coca Cola e assim sucessivamente.
Como
se não bastasse, ainda segundo a revista Galileu, Eduardo Cunha em
abril do ano passado foi o relator de uma medida provisória que perdoava
dois bilhões de reais dos planos de saúde. E meses depois o mesmo Cunha
recebeu para a sua campanha doação de 500 mil reais por parte da
Bradesco Saúde e Vida e Previdência, um dos maiores planos de saúde do
Brasil. .
Eduardo
Cunha, como Aécio Neves Cunha, tem um objetivo primordial, o poder a
qualquer preço. Eduardo agora quer porque quer que o Parlamentarismo
volte à ordem do dia, não bastasse a rejeição dessa forma pelos
eleitores em duas oportunidades, em 1963 e na década de 90.
Assim caminham os Cunhas, que fazem muito mal ao Brasil.
Claro
que tudo isso não impede de se criticar, mas de uma forma não golpista
como fazem os Cunhas, a Presidenta Dilma Rousseff. Ela delegou poderes
ao Ministro da Fazenda Joaquim Levy e acredita que o Brasil vai superar
as atuais adversidades. Mas há quem diga que isso não acontecerá. O
tempo vai dizer com quem está a razão. Por enquanto a barra pesa para os
trabalhadores.
O
Brasil não pode continuar ficando ao sabor da crítica golpista
estimulada pela mídia conservadora. Por isso, é necessário que se apoie
de todas as formas a manutenção da legalidade.
Motivo real
Se
Aécio Neves Cunha quer o poder, que tente mais uma empreitada na
próxima eleição de 2018, mas não através de jogadas golpistas. Para
alguns analistas, o atual posicionamento de Neves Cunha de detonar com o
governo de Dilma Rousseff tem uma explicação e está inserido no
contexto interno do PSDB. Ele teme que daqui a três anos ele tenha que
disputar a indicação da legenda com outros candidatos, como, por
exemplo, Geraldo Alckmin ou mesmo outro paulista, o entreguista José
Serra.
Neves
Cunha acredita que o seu momento é agora, mas em 2018 o cenário
político pode ser outro e ele pode ser prejudicado, não só na disputa
interna do tucanato, como uma eventual melhora de cotação do atual
governo.
É
por aí que passa a atual crise brasileira, que remete (como farsa)
também a 1954 e 1964, quando empresários e militares se uniram, primeiro
para detonar Getúlio Vargas, golpe evitado com o sacrifício heróico do
Presidente e dez anos depois com a derrubada do Presidente
constitucional Jango Goulart.
Aí, vale repetir, esteve em cena o Coronel Golbery do Couto e Silva, que doou seus arquivos para o jornalista Élio Gaspari.
Em
tempo: o povo da Grécia deu um basta à austeridade votando 61% pelo não
no referendo do último domingo. As pesquisas apontavam empate técnico,
mas o sim obteve 39%. Ou seja, a rejeição foi de goleada e mostrou como
agem os institutos de pesquisa.
(*)
o sobrenome Cunha do Aécio vem do pai, o Aécio Cunha, filiado a
famigerada ARENA e apoiador incondicional da ditadura de 1964.
Mário Augusto Jakobskind, jornalista
e escritor, correspondente do jornal uruguaio Brecha; membro do
Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (TvBrasil). Seus
livros mais recentes: Líbia – Barrados na Fronteira; Cuba, Apesar do
Bloqueio e Parla , lançado no Rio de Janeiro.
Direto da Redação é
um fórum de debates, do qual participam jornalistas colunistas de
opiniões diferentes, dentro do espírito de democracia plural, editado,
sem censura, pelo jornalista Rui Martins.
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