Rede Globo: 50 anos de ataques à democracia
Escrito por: Joanne Mota
Fonte: Vermelho
Fonte: Vermelho
'Hoje, a Globo que determina o que as pessoas vão conversar, de forma quase monopolista, sem que haja qualquer tipo de alternativa a esse debate. Com uma política editorial de manipulação contra os interesses populares, sempre a favor das elites.', disparou Laurindo Lalo Leal Filho, professor aposentado da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e apresentador do programa VerTv, exibido pela TV Brasil, ao comentar os 50 anos da Rede Globo no Brasil.
O pesquisador lembra que "as Organizações Globo ocuparam um espaço que
foi aberto na sociedade brasileira a partir da ideia de que não deve
existir regulação para os meios de comunicação. A TV Globo é herdeira do
jornal e da rádio Globo, que ocuparam, desde o início, sem nenhum tipo
de controle, o espaço eletromagnético, as ondas de rádio e TV. Com isso,
criaram uma estrutura que acabou se tornando praticamente monopolista.
As concorrentes que surgiram acabaram por adotar o seu modelo, mas nunca
conseguiram atingir os mesmos graus e índices de cobertura".
E completou: "A Rede Globo quer o monopólio total, o controle absoluto
das ideias, informações e valores que circulam no país e, por isso,
utilizam todos os recursos para que a liberdade de expressão seja uma
liberdade controlada por eles".
50 anos de poder e hegenomia
Laurindo Leal (foto ao lado) ainda destaca que o pdoer e hegeminia da
chamada vênus platinada se deu graças, primeiro, à total falta de
regulação e, segundo, às relações que ela sempre buscou ter com os
membros do poder, particularmente, aqueles mais conservadores. Hoje, é a
Globo que determina o que as pessoas vão conversar: é sobre novela,
futebol ou escândalo político. São esses três eixos de conteúdo que ela
oferece, de forma quase monopolista, sem que haja qualquer tipo de
alternativa a esse debate".
O pesquisador salienta que a maior empresa de comunicação do Brasil se
tornou um poder que impede uma maior circulação de ideias e a ampliação
da liberdade de expressão. Hoje, o debate público é controlado pela
Globo.
Globo e sua relação com a ditadura
Durante a entrevista, Laurindo Leal Filho lembrou da relação golpista que a Globo manteve com o regime militar.
"O início da história golpista da Globo, ainda com a rádio e o jornal,
pode ser localizada na tentativa de golpe contra o governo Vargas. Ali
se tentou um golpe que foi adiado por dez anos: de 1954, com a morte de
Vargas, para 1964, com a deposição do Jango [como era conhecido o
ex-presidente João Goulart]. Houve uma campanha sistemática contra ele –
como a que fazem hoje contra a presidente Dilma –, dando todo o apoio
ao golpe militar e, depois, fazendo a sustentação política da ditadura,
em troca de favores e vantagens".
Luta de ideias
Ao apontar a influência da rede no debate político nacional e seu
objetivo com essa atuação. ele indicou que a Rede Globoé a responsável
pelo não aprofundamento da democracia no Brasil.
Assista aqui o vídeo: A verdade é dura: a Globo apoiou a ditadura
"Ela [a Globo] faz isso através de dois mecanismos. O primeiro é a
questão cultural, mantendo a população alienada, afastada do processo
político através de uma programação que faz com que as pessoas deixem de
prestar atenção a aquilo que é essencial à vida delas enquanto cidadãs,
distraindo com a superficialidade da programação. A Globo é responsável
pela despolitização do brasileiro".
Partido de oposição
Para o pesquisador, a Rede Globo se consolidou como um grande partido
de oposição. "Não sou eu quem digo. A própria ex-presidente da
Associação Nacional dos Jornais disse isso há alguns anos. “Como a
oposição está muito frágil, a imprensa tem que assumir seu papel”.
Então, nos governos Lula e Dilma a oposição está centrada nos grandes
meios de comunicação que, inclusive, pautam os partidos de oposição"
E lembrou que são inúmeros os casos. "Hoje, a mídia é o grande partido
de oposição e a Rede Globo é o principal agente desse partido".
Democratização da comunicação
Ao final da entrevista, Laurindo Leal Filho falou sobre a luta central
pela democratização do setor e criticou os que acham que regular é
censurar.
"Na verdade, eles são os censores. Eles é que fazem a censura de
inúmeros assuntos, temas e angústias da sociedade brasileira, que não
têm espaço na sua programação. Apesar de estarmos há mais de 30 anos sem
censura oficial, eles usam um conceito de fácil assimilação pela
população, e que ainda tem reverberação por aquilo que ocorreu durante o
regime militar, para taxar aqueles que querem justamente o contrário,
aqueles que querem o fim da censura estabelecida por esses meios e a
ampliação da liberdade de expressão".
Para o pesquisador, "a batalha pela liberdade de expressão é uma
batalha difícil, porque nós temos que contrapor um conceito de fácil
assimilação, um conceito que tem de ser explicado em seus detalhes, que é
o da liberdade de expressão. Quando se quer a regulação dos meios de
comunicação, se quer que mais vozes possam se expressar na sociedade
brasileira".
Domingão do Povão
A Pós-TV, projeto do coletivo Fora do Eixo, produziu um vídeo, que
circula pelas redes sociais, sobre as contradições do jornalismo da Rede
Globo. Além disso, o vídeo convoca para uma manifestação em Brasília,
no próximo domingo, às 13h, na sede da emissora na capital federal. No
dia 26 de abril, a Globo completa 50 anos.
Assista aqui o vídeo
Descomemorações
Por todo o Brasil, neste domingo (26), movimentos sociais, organizações
políticas, coletivos de comunicação e de juventude estão articulados
para "descomemorar" os 50 anos da Rede Globo em manifestações por todo o
país. Na última semana, essas entidades lançaram manifesto contra os ataques da chamada vênus platinada à democracia.
Do Portal Vermelho, com informações do Brasil de Fato
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