Urgente
Secaram São Paulo e podem secar o Brasil
Segunda, 23 Março 2015
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"São Paulo foi a primeira vítima, mesmo
ficando em cima do aquífero Guarani e na Bacia do Prata. O agronegócio e
a produção de biocombustíveis nesse Estado consomem aproximadamente 80%
de água e suas industrias mais de 20%"
Por Zilda Ferreira*
Imaginem o Brasil, o mais rico do
planeta em água, com sede. O País, conforme novas descobertas, tem
aproximadamente 20% de toda água do mundo. Possui as duas maiores bacias
hidrográficas; Amazônica e do Prata, além de ter os dois maiores
aquíferos; Alter do Chão e Guarani. Mas não tem uma legislação que
proteja os rios aéreos, e as águas subterrâneas são de domínios dos
Estados, conforme a Lei das Águas de 1997. Para agravar não há políticas
públicas para gerir esses recursos em benefício do Estado e da
população. Parece até que o Ministério do Meio Ambiente e Agência
Nacional de Águas (ANA) aderiram a política das empresas do mercado da
água de privar para privatizar.
A destruição do Bioma Cerrados que
congrega o Planalto Central, onde nascem quase todos os grandes rios
brasileiros, atualmente contaminados e destruídos pelo agronegócio,
principalmente suas nascentes e matas ciliares, sem dúvida é também
responsável por essa iminente catástrofe. São Paulo foi a primeira
vítima, mesmo ficando em cima do aquífero Guarani e na Bacia do Prata. O
agronegócio e a produção de biocombustíveis nesse Estado consomem
aproximadamente 80% de água e suas industrias mais de 20%. Além disso,
São Paulo foi primeiro Estado da Federação a incentivar a privatização
da água em seus municípios, através de concessões, e não investiu na
rede de abastecimento - apesar do consumo doméstico ser prioritário por
lei - o acesso foi negado com a falta de água, contrariando a Resolução
da ONU 64/292 que determina Água como Direito Humano.
Mineradoras podem secar o Brasil
Agora, os Brasileiros devem temer que
esse problema se espalhe pelo país porque as mineradoras, principalmente
as multinacionais, podem secar a Amazônia, o cofre hídrico do
continente. Há denúncias de que uma mineradora Anglo-Americana está
poluindo as nascentes do Rio Amazonas, no Peru. Em Alter do Chão,
distrito de Santarém, PA, à beira do Rio Tapajós, dois engenheiros
argumentavam com uma jornalista que o maior problema da poluição e do
desequilíbrio ambiental da Amazônia são as mineradoras e não
desmatamento.
Durante um simpósio em Tucuruí/PA, um
engenheiro Florestal assegurava que a ALCOA -empresa líder mundial na
produção de alumínio - consumia mais energia que toda a população de São
Luis, além da grande quantidade de água e de envenenar os rios. Em
seguida, um outro palestrante usou uma metáfora para explicar a
importância de não poluir as águas: "Os rios são como veias de um corpo e
as barragens como um grande coágulo, se as mineradoras não envenenassem
esse sangue da terra e não sugassem tanta água, a natureza regeneraria.
Mas, elas não permitem".
Os convertidos da mídia
Alheios às causas que geram a crise
hídrica os convertidos da mídia infernizam vizinhos, convocam reuniões
de condôminos para discutir a crise da água. O clima desses encontros é
tenso. Normalmente, pedem novas regras de consumo de água, denunciam
vizinhos, e querem instalações urgentes de medidores individuais em
prédios antigos. Numa dessas reuniões, na Tijuca, um bairro de classe
média do Rio de Janeiro, uma moradora resolveu indagar se alguém sabia
que o agronegócio consumia mais de 70%, as indústrias mais de 20% e que
consumo doméstico não chegava 8%, lembrando que a água tratava é cara.
Todos desconheciam essa informação, mesmo uma bióloga ambientalista e
uma jornalista que trabalhava para uma ONGs de Educação Ambiental.
Enquanto esse discurso da mídia tem
azedado relações entre vizinhos e gerado até brigas sérias, parece que o
mercado está satisfeito. Recentemente um empreendimento imobiliário -
detalhes no link - fazia grande propaganda de um oásis, preparado
através da mudança do curso de um rio, especialmente aos paulistas que
quisessem fugir do drama da falta de água para viver num clima de
abundância hídrica, com águas cristalinas. Um verdadeiro sonho para quem
pudesse pagar.
Entretanto, com as empresas a mídia é
benevolente e tem evitado atritos, não divulga quem consome mais água e
nem o nome de uma empresa de bebidas que desviou o curso de um rio para
beneficiar sua fábrica. Pouca gente sabe que a Sadia é a empresa que
mais consome água do Aquífero Guarani e também uma das maiores
poluidoras da cidade de Toledo, no Paraná. É bom lembrar que só para
produzir um quilo de frango são necessários dois mil litros de água.
Ninguém divulga também que os irmãos Marinhos nos anos 90 compraram
terras exatamente em cima do Aquífero Guarani, embora essa denúncia
tenha sido feita por professores de universidades paulistas, na ocasião
(Leia: "Água destinada a empresas pela Sabesp aumenta 92 vezes em 10
anos").
Esses fatos e a Resolução da ONU 64/292
que determina Água como Direito Humano são escondidos para que a
população não proteste contra o processo de privatização desse bem comum
e essencial à vida.
O processo de privatização
Atualmente há dois grupos que defendem
subliminarmente a privatização da água e se revezam no comando da
política hídrica brasileira: os tecnicistas, com inovações tecnológicas
descontaminantes, debitando na conta do cidadão o problema de escassez
da água; e os conservacionista da natureza, com discurso da
sustentabilidade, que encobre o limite da capitalização da natureza e da
cultura. A capacidade de perversão e sedução desse discurso e tão
alienante que modifica hábitos do povo para economizar água até para
escovar os dentes.
É difícil separar esses dois grupos,
porque os interesses deles são mais ou menos os mesmos. Por exemplo, o
grupo que atualmente dirige a SABESP e a política hídrica do Estado de
São Paulo é formado por técnicos altamente especializados, ex-
dirigentes da Agência Nacional de Águas (ANA) - considerados tecnicistas
- mentores da atual política hídrica brasileira, implantada no governo
FHC, dentro dos princípios neoliberais científicos e tecnológicos de
dominação do homem e da natureza.
É importante lembrar que a atual
ministra do Meio ambienta, Isabela Teixeira, tem formação acadêmica na
COPPE/UFRJ - instituição dominada na área hídrica pela Suez Lyonnaise
des Eaux, segunda maior empresa do mercado mundial da Água e GDF Suez
também francesa, considerado o segundo grupo de energia do mundo.
Isabela é uma tecnocrata, discípula desses grupos e talvez por isso
tenha endossado políticas do Conselho Mundial da Água, que congrega as
maiores empresas do mercado da Água, defensoras da privatização - Ficou
claro no VI Fórum Mundial da Água em Marselha, em 2012.
Sustentabilidade?
E quem sonhava com o discurso de
sustentabilidade da ex-ministra Marina Silva, já percebeu que a
realidade é uma catástrofe ainda maior. Os conservacionistas com o
disfarce do discurso da sustentabilidade, que encobre o limite da
capitalização da natureza, têm como estratégia de poder o hiper-realismo
da globalização no ocultamento dos mecanismo de repressão, a fim de
dilapidar recursos ambientais e ficarem impunes. Defendem até a
federalização do mundo, e assim, a governança dos ativos ambientais
brasileiros seria entregue às nações hegemônicas.
Não há esperança a vista. Imaginem a que
ponto chegamos, o Financial Times divulgou que uma das causas para o
impeachment de Dilma seria a falta de Água. O voracidade do mercado e a
mídia perderam a noção, mas parece que contam com o apoio da Ministra do
Meio Ambiente, Isabella Teixeira, que jamais foi criticada pelo Globo e
pela mídia em geral.
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