terça-feira, 29 de março de 2016

DE TUDO UM POUCO,OU MUITO.

Juiz, policial, editor-chefe

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Não me lembro de nenhuma outra época da nossa história dos últimos 50 anos em que a imprensa de massa tenha se deixado aviltar e apequenar tão acintosamente como hoje.
Não à toa, escuta-se cada vez mais comentários tais como "não leio mais a Folha", "cancelei a assinatura da Veja", "não consigo mais ver a Globo News", "não ouço mais a Jovem Pan".
Nunca, em alguma outra ocasião, os editores-chefes dos principais órgãos de imprensa falada, escrita e televisada abriram mão dos princípios básicos do jornalismo, tais como somente publicar depois de checar a informação com ao menos duas fontes, não publicar informações que não respondam satisfatoriamente às cinco perguntas – o que, onde, porque, quando, como – e jamais levar à manchete do jornal ou à capa da revista informações que a matéria publicada no miolo não confirma.
Na vigência da ditadura militar, muitas vezes tais critérios foram abandonados, mas não por decisão dos editores e sim pela imposição da censura ou dos patrões.
Mesmo submetidos ao tacão militar, os jornais, comandados por grandes jornalistas, tais como Mino Carta e Claudio Abramo, para citar apenas dois, lutavam contra as imposições da forma que podiam e, quando eram obrigados a abrir mão do exercício pleno da imprensa livre e ética, preferiam demitir-se ou ser demitidos, tal como ocorreu com os dois citados, Mino defenestrado da Veja e Abramo, da Folha.
Comandados agora por jornalistas que envergonham os colegas, e que serão lembrados no futuro pela subserviência, ignorância, covardia e mau-caratismo os principais jornais, revistas e telejornais tornaram-se porta-vozes de um juiz de primeira instância chamado Sergio Moro, que também assumiu o papel de policial e é cada vez mais, o editor-chefe de toda a grande imprensa.
Ele se transformou no oráculo, na fonte única, usando a seu bel prazer os meios que deveriam informar a verdade, com a conivência dos editores e dos patrões para atingir seu objetivo que é criminalizar a classe política e convencer a população de que é preciso derrubar o governo atual.
Todas as "informações" oriundas do chefe da "República de Curitiba" são publicadas sem nenhum questionamento, sem serem checadas. Tudo o que acontece nesse pedaço do Brasil onde ele faz e desfaz é imediatamente acatado e aplaudido pelos editoriais, pelas manchetes, pelas capas, como se fosse a verdade absoluta, sem nenhum respeito aos direitos humanos. Todas as flagrantes ilegalidades, que chegaram ao auge com o grampo da presidente da República são vendidas aos leitores como eventos normais de uma suposta democracia.
Tais "editores" e "colunistas", com honrosas exceções, das quais a voz mais sensata e ao mesmo tempo mais incisiva é a de Jânio de Freitas, com seus 83 anos honrados e bem vividos se esquecem das duas fases que seus colegas mais antigos enfrentaram em anos recentes.
Antes do golpe de 64, os mesmos órgãos de imprensa que agora pregam a deposição da presidente Dilma e com suas manchetes incendiárias alimentam os artificiais "movimentos de rua", também se apressavam em pedir e até exigir a deposição de João Goulart com manchetes tonitruantes tais como "Basta!", "Chega!" e ofereciam espaços generosas a manifestações golpistas como a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade".
No entanto, consumado o golpe militar, com seu decidido apoio, patrões e jornalistas acordaram para a realidade de que as principais vítimas, depois dos políticos, seriam eles.
Os mesmos jornais que em letras garrafais aplaudiram a ruptura democrática tiveram as redações invadidas por censores a serviço dos generais e, para não rodarem seus exemplares com espaços em branco publicaram receitas de bolo na primeira página.
Não existe imprensa livre sem democracia, nem democracia sem imprensa livre.

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