sábado, 10 de agosto de 2013

O PSTU E O ESTADÃO....

Uma polêmica sobre a polêmica
PSTU contra os black blocs: contra vândalo vote 16?
O jornal mais conservador da burguesia paulista, O Estado de S. Paulo, e o PSTU criticaram ações dos black blocs recentemente. Para surpresa de alguns, ambos concordam. E muito
Para não nos alongarmos demais, nesse texto vamos nos concentrar nos argumentos apresentados pelo PSTU para condenar a ação dos chamados "black blocs". Sobre o Estado de S. Paulo gostaríamos apenas de dizer que o PSTU ganhou seu reconhecimento por ter sido "o primeiro partido" a criticar os black blocs. Quem sabe o elogio não se converte num punhado de votos?
A crítica do PSTU aos black blocs está em um documento chamado “Uma polêmica com os 'Black Blocs'”. O PSTU os toma como militantes de um partido marxista equivocados em sua política, no meio de uma revolução. Chega ao requinte de exigir um programa de quem quebra vidraças de bancos pela cidade. Mas que revolução é essa de que o PSTU fala dessa vez?

A “revolução” como espantalho
Lá pelas tantas, lê-se no texto do PSTU: “Foram as grandes manifestações de massas de junho que mudaram o país e não a [sic] depredações de fachadas e vidraças”. No mesmo texto em que contrapõe aos black blocs a “revolução” e a “verdadeira ação revolucionária”.
Ou seja, as manifestações de junho foram revolucionárias. Mais uma vez o PSTU fala em revolução pra dizer qualquer outra coisa. Uma dessas coisas é dizer-se contra o “vandalismo” para agradar uma suposta opinião “média” que passa a impressão, para o pequeno-burguês médio, de ser uma opinião da grande maioria, porque pode ser que seja uma opinião predominante entre a própria pequena burguesia.
Ao mesmo tempo, sem abandonar a demagogia pseudoesquerdista, usada para bajular a esquerda e enrolar os próprios militantes, o PSTU disfarça falando em revolução. Mais uma vez o objetivo só pode ser eleitoreiro.

O sentido das manifestações e os black blocs
Apesar de ser óbvio que as relações entre as classes sociais no Brasil não se alteraram depois das manifestações de junho, é preciso, para o bem de alguns leitores que podem ter se espantado com essa nossa afirmação, explicá-la.
Por enquanto, o sentido das manifestações é justamente aquilo que o PSTU desdenha nos black blocs: as manifestações cresceram graças a uma causa democrática, a luta contra a repressão, pelo direito de se manifestar. Alcançaram as proporções que alcançaram depois de São Paulo ter sido sitiada pela PM de Alckmin no dia 13 de junho. A importância disso é o repúdio que milhares de pessoas mostraram nas ruas à ditadura que vivemos em São Paulo. Trata-se, por enquanto, de uma reação ainda muito confusa contra uma ditadura que se escondia sob uma cobertura democrática, e não de revolução em abstrato. Esse é o dado objetivo da situação.
Os black blocs são uma forma que a revolta e a resistência à violência policial assumiram. E antes de qualquer coisa, são um fato concreto. Um fato fácil de entender: pessoas decidiram revidar a violência constante da polícia.
Foi a resistência, dos que participam nos black blocs e de outras pessoas, que levou a mais e mais repressão nas primeiras manifestações contra o aumento da passagem em São Paulo. Repressão que culminou no 13 de junho, que levou milhares às ruas. Ou seja, ações como as que o PSTU condena é que desencadearam as grandes manifestações de depois do dia 13 de junho em São Paulo.

A repressão não precisa de pretextos
Outro argumento que o PSTU apresenta contra os “vândalos” é que estes serviriam de pretexto para a repressão das manifestações.
Diz o PSTU em sua "polêmica": “consideramos que esses métodos não enfraquecem os grandes empresários. Ao contrário, lhes dão um argumento para jogar a opinião pública – e muitos trabalhadores – contra as manifestações e, assim, preparar a repressão. Sua 'ação direta' é típica de setores de vanguarda, descolados das massas, que terminam por fazer o jogo da direita, justificando a repressão”.
Ora, a polícia nunca precisou de pretexto nenhum para reprimir. Sempre que se vai em manifestações em São Paulo já se sabe que a possibilidade de repressão policial violenta é muito grande. O pretexto que um policial espera para reprimir chama-se ordem.
O próprio 13 de junho foi mais um entre tantos exemplos. Tinham a ordem de não deixar o ato chegar na Av. Paulista, ponto final.

Sobre o "vandalismo”
A acusação de “vandalismo” é, ela própria, parte da repressão. Vem da burguesia, temerosa, e da imprensa burguesa.
A vitória do movimento que conseguiu impor o recuo do aumento das passagens (isso era uma reivindicação revolucionária?) está diretamente relacionada à resistência e ao revide de setores mais radicais da juventude à violência da polícia. Vale lembrar alguns trechos do balanço das manifestações publicadas nas páginas desse jornal, na edição nº 748, de 22 de junho deste ano:
“A ação violenta, como somente poderia ser, partiu da juventude, em particular de um setor proletário da juventude, mais decidido e radical. É a expressão da evolução da luta geral para métodos mais eficazes superando a política puramente parlamentar da esquerda pequeno-burguesa.
“Em grande medida, o movimento foi vitorioso graças aos 'vândalos' que reagiram como puderam à repressão policial. O medo dos governos estava em que essas ações se generalizassem com a ocupação de edifícios públicos e um agravamento da crise política. Basta conferir quantas vezes os órgãos da imprensa do grande capital e da direita usaram as expressões 'paz', 'manifestação pacífica', a qual foi considerada logicamente 'linda'.”
Valério Arcary preferiu dizer que as manifestações foram “emocionantes”, mas é possível que ele também as tenha achado “lindas”, desde, é claro, que o patrimônio, público ou privado, tenha sido devidamente resguardado.

O PSTU e a imprensa burguesa
Não foi a primeira vez que o PSTU sucumbiu a campanhas da imprensa burguesa. Em fevereiro, quando Yoani Sánchez visitou o Brasil, o PSTU aproveitou a oportunidade para atacar Cuba e defender a blogueira, claramente pró-imperialista.
Outra oportunidade em que o PSTU acabou engrossando uma campanha imperialista foi quando criticou o chamado “terrorismo” na luta contra o imperialismo no Oriente Médio. O sentido sempre é o mesmo, contrapor um suposto programa revolucionário de um partido hipotético que não está intervindo nos acontecimentos à realidade concreta da resistência como ela de fato se coloca.
Na ocupação da reitoria da USP em 2011 o PSTU foi mais longe, afirmando para a grande imprensa que o movimento era “ilegítimo”, depois de não conseguir manobrar uma assembleia (e de ter ido apanhar no laço direitistas que participavam de um ato no campus para participar das votações). Mais do que embarcar numa campanha da direita, o PSTU (junto com o PSOL, que estava à frente da gestão do DCE naquela ocasião) deu à direita um de seus principais argumentos (aqui sim de fato e não teoricamente) para hostilizar a ocupação. “Vandalismo”, “vândalos”, “baderneiros”, entre outros, também eram os termos usados pela imprensa burguesa para atacar o movimento que ocupou a reitoria naquele ano. A desocupação promovida por 400 homens da polícia, com a prisão de mais de 70 estudantes, seria um dos eventos que começariam a escancarar a ditadura do PSDB em São Paulo.

Anarquismo e oportunismo
Outro objetivo do PSTU, não alcançado em seu artigo, era criticar o anarquismo. Não alcançando esse objetivo, atacaram a ação dos black blocs nos termos que vimos. É importante apontar aqui em que sentido deveria ir uma crítica pertinente ao anarquismo. Segue um trecho de "Sobre a questão do partido revolucionário", de Rui Costa Pimenta (1ª edição, julho de 2002):
"Como muitos países latino-americanos, a classe operária brasileira organizou-se para dar os seus primeiros passos sob a bandeira do anarco-sindicalismo, movimento que criou os primeiros sindicatos operários no país e a primeira central sindical, a Confederação Operária Brasileira (COB). O sindicalismo anarquista tinha, indubitavelmente, um caráter revolucionário, tendo sido responsável por inúmeras das mais importantes lutas operárias no país, como a greve geral de 1917 e a greve dos gráficos de 1922, bem como pelas primeiras conquistas operárias - jornada de oito horas -, tudo o que obrigaria a burguesia a reconhecer, a seu modo, a vontade dos operários na forma da legislação trabalhista da CLT na década de 30.
"A principal limitação do anarquismo foi justamente a sua negativa em lutar por um partido político e fazer a classe operária ocupar o seu lugar como um elemento político decisivo nos destinos do país. Esta limitação levou ao colapso tanto das organizações operárias construídas em quatro décadas de impressionantes lutas, mas também das próprias formações anarquistas." (grifo nosso)
O PSTU, como todo partido centrista, oscila entre a revolução e a contra-revolução. Não pode criticar os anarquistas por não ter um programa para sustentar sua crítica. É obrigado a fazê-lo adotando o programa de outros agrupamentos políticos, a direita, no caso. E isso explica porque esse partido também não combate a direita. Afinal, pode precisar de favores dela no curto e no longo prazo.

É preciso ter um objetivo claro
Finalmente, concluímos retomando aqui o balanço do dia 24 de junho:
"Um argumento particularmente cretino – uma palavra que Marx usava saborosamente contra a esquerda pequeno-burguesa da sua época – é o de que o suposto vandalismo é obra de pequenas minorias, dando a entender que seria apoiado e legítimo se fosse de uma maioria. Nesse caso, não seria melhor propor a expansão do vandalismo ao invés de condená-lo?"
"Embora seja um truísmo, para usar um anglicismo tão de acordo com a nossa época, é preciso dizer: não há revolução sem violência. E mesmo que os revolucionários fossem mais exageradamente pacíficos do que são, a burguesia nunca lhes permitiria o luxo de uma revolução pacífica e os faria dançar conforme a música ou perecer. Somente preconceitos arraigados podem levar alguém a pensar de forma diferente depois de tantas manifestações da própria burguesia. Dessa forma, não faz sentido ignorar a presença da violência na sociedade e sim compreendê-la e preparar-se conscientemente para ela.
Nesse sentido, se a ação dos 'vândalos' é desorganizada, deve ser organizada.
Se a ação dos 'vândalos' é sem objetividade, deve ser fornecido um objetivo claro a ela.
Se a ação dos 'vândalos' é minoritária é preciso torná-la geral.
E não combatê-la."

Um comentário:

  1. NENHUMA SURPRESA...ESSE É O PSTU DO ZÉ MARIA O DO CYRO.PERGUNTE AO PCO...

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