quinta-feira, 29 de agosto de 2013

INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA.

Opinião

Médicos cubanos: avança a integração da América Latina!

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Terça, 27 Agosto 2013
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A campanha conservadora contra a integração latino-americana sofrerá um revés tremendo quando o programa Mais Médicos começar a apresentar seus efeitos concretos. Leia o artigo de Beto Almeida, publicado originalmente no Brasil de Fato.
A cooperação entre Brasil e Cuba, em matéria de saúde, não está iniciando-se agora. Durante o governo Sarney, recém restabelecidas as relações bilaterais, em 1986, foram as vacinas cubanas contra a meningite que permitiram ao nosso país enfrentar aquele surto. Na época, a mídia teleguiada também fez uma sórdida campanha contra o governo Sarney, primeiro por reatar as relações, mas também por comprar grandes lotes da vacina desenvolvida pela avançada ciência de Cuba. De modo venenoso, tentou-se desqualificar as vacinas, afirmando serem de qualidade duvidosa, tal como agora atacam a medicina cubana. Na época, foram as vacinas cubanas que permitiram controlar aquele surto e salvar vidas. Mas também trouxeram, por meio do exemplo, a possibilidade de que aprendêssemos um pouco dos valores e das conquistas de uma revolução. Afinal, por que um país com poucos recursos, com uma base industrial muito mais reduzida, conseguia não apenas elevar vertiginosamente o padrão de saúde de seu povo, mas também desenvolver uma tecnologia com capacidade para produzir e exportar vacinas, enquanto o Brasil, com uma indústria muito mais expandida, capaz de produzir carros, navios e aviões, não tinha capacidade para defender seu próprio povo de um surto de meningite? São sagradas as prioridades de uma revolução. E é por isso que, ainda hoje, a sexta maior economia do mundo se vê na obrigação de recorrer a Cuba para não permitir a continuidade de um crime social configurado na não prestação de atendimento médico a milhões de brasileiros.
Mais recentemente, quando a Organização Mundial da Saúde convocou a indústria farmacêutica internacional a produzir vacinas para combater um tenebroso surto de febre amarela que se espalhou pela África, obteve como resposta desta indústria o mais sonoro e insensível “não”. Os preços que a OMS podia pagar pelas vacinas não eram, segundo as transnacionais farmacêuticas, apetitosos. Milhões de vidas africanas passaram a correr risco, não fosse a cooperação entre dois laboratórios estatais: o Instituto Bio Manguinhos, brasileiro, e o Instituto Finley, cubano. Essa cooperação permitiu a produção, até o momento, de 19 milhões de doses da vacina que a África necessitava, a um preço 90 por cento menor que o preço do mercado internacional. Onde foi publicada esta informação? Apenas na Telesur e na imprensa cubana. A ditadura dos anúncios da indústria farmacêutica, que dita a linha editorial da mídia brasileira em relação ao programa Mais Médicos e à cooperação da medicina de Cuba, simplesmente impediu que o grande público brasileiro tomasse conhecimento desta importantíssima cooperação estatal brasileiro-cubana.

Os médicos cubanos e o furacão Katrina
Para dimensionar a inqualificável onda de insultos que os médicos cubanos vêm recebendo aqui na mídia oligárquica, lembremos um fato também sonegado por esta mesma mídia, que revela suas dificuldades monumentais para o exercício do jornalismo como missão pública. Quando ocorreu o trágico furacão Katrina, que devastou Nova Orleans, deixando uma população negra e pobre ao abandono, dada a incapacidade e o desinteresse do governo dos EUA em prestar-lhe socorro naquela oportunidade, também foi Cuba que colocou à disposição do governo estadunidense – malgrado toda a hostilidade ilegal deste para com a Ilha – um contingente de 1.300 médicos, postados no Aeroporto de Havana, com capacidade de chegar para prestar ajuda à população afetada pelo furacão. Aguardavam apenas autorização para o embarque, e em questão de 3 horas de voo estariam em Nova Orleans salvando vidas. Aguardaram horas, mas esta autorização nunca chegou da Casa Branca. A resposta animalesca do presidente George Bush foi um sonoro “não” à oferta de Cuba, o que tampouco foi divulgado pela mídia oligárquica, provavelmente para protegê-lo do vexame de ver difundido seu tosco caráter, que tal recusa representava. Os EUA estão sempre prontos para enviar militares e mercenários pelo mundo, mas são incapazes de prestar ajuda ao seu próprio povo, e também arrogantes o suficiente para permitir uma ajuda de Cuba à população pobre e negra afetada pelo furacão.

Uma Escola de Medicina para outros povos
Também não circulam informações aqui de que Cuba, após o furacão Mity, que devastou a América Central e parte do Caribe, decidiu montar uma Escola Latino-americana de Medicina que, em pouco mais de 10 anos de funcionamento, já formou mais de 10 mil médicos estrangeiros gratuitamente. Entre eles, 500 jovens negros e pobres dos EUA, moradores dos bairros do Harlem e do Brooklin, de elevados índices de violência. Eles me revelaram que se tivessem continuado a viver ali, eram fortes candidatos a serem presa fácil do narcotráfico. Frisavam que estar ali em Cuba, formando-se em medicina gratuitamente, era uma possibilidade que a maior potência capitalista do mundo não lhes oferecia. Há, estudando na ELAM, cerca de uma centena de jovens do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), filhos de assentados da reforma agrária. Isto significa que Cuba compartilha com vários países do mundo seus modestos recursos. Também estudam lá cerca de 600 jovens do Timor Leste, sendo que existem 40 médicos cubanos trabalhando já agora no Timor. O tipo de exame Revalida seria capaz de dimensionar esta solidariedade cubana com a saúde dos povos?

Ampliar a integração em outras áreas
Também não se divulgou por aqui que Cuba montou três Faculdades de Medicina na África, (Eritreia, Gambia e Guiné Equatorial), em pleno funcionamento, com professores cubanos. Toda esta campanha de insultos contra Cuba e os médicos cubanos abre uma boa possibilidade para discutir e conhecer mais a fundo todas estas conquistas da Revolução Cubana, mas, especialmente, para que as forcas progressistas reflitam sobre quantas outras possibilidades de cooperação existem entre Brasil e Cuba, em muitas outras áreas.
Mas serve, também, para reavaliar a posição de certos parlamentares médicos da esquerda no Brasil que se opõem, inexplicavelmente, ao Programa Mais Médicos, alguns chegando ao absurdo de apresentarem projetos de lei proibindo, pelo prazo de 10 anos, a abertura de qualquer novo curso de medicina no Brasil. Cuba abre faculdades de medicina na África, parlamentares da esquerda brasileira – padecendo da doença senil do corporativismo tosco – propõe a não abertura de mais cursos de medicina aqui. Realmente, setores de nossa esquerda também precisam da cooperação médica cubana, a começar para curarem-se de espantosa desinformação acerca de Cuba!

Qualificar o debate sobre a integração
Enfim, um debate democrático e qualificado em torno do programa Mais Médicos, da presença de médicos cubanos aqui no Brasil e em mais de 70 países, e também sobre as conquistas da Revolução Cubana, deve ser organizado pelos partidos e sindicatos, pelo movimento estudantil, pelos movimentos sociais, pela Solidariedade a Cuba, pelas TVs e rádios comunitárias, como forma de impulsionar a integração da América Latina, que, neste episódio, está demonstrando o quanto pode ser útil à população mais pobre. A TV Brasil pode cumprir uma função muito útil, pode divulgar documentários já existentes sobre o trabalho de médicos em regiões inóspitas e adversas em diversos países.
É preciso expandir esta integração, avançar pela educação, pela informação, não havendo justificativas para que o Brasil ainda não esteja conectado com a Telesur, por exemplo, que tem divulgado amplo material jornalístico informando que três milhões e meio de cidadãos latino-americanos já foram salvos da cegueira graças à Operação Milagro, pela qual médicos cubanos e venezuelanos realizam, gratuitamente, cirurgias de cataratas em vários países da região. Isso não é notícia relevante? Enquanto o povo argentino, por exemplo, já pode sintonizar gratuitamente a Telesur, por sua TV digital pública, e informar-se de tudo isto, o povo brasileiro está impedido, praticamente, de receber informações que revelam o andamento da integração da América Latina. Mas, com a chegada dos médicos cubanos, a integração será cada vez mais pauta da agenda do debate político nacional e receberá, certamente, um impulso político e social notável, pois o povo brasileiro saberá, com nobreza e humanismo, valorizar e apoiar o Programa Mais Médicos. Aliás, é exatamente isto o que tanto apavora a medicina capitalista.

Há 70 mil engenheiros estrangeiros no Brasil hoje!
Segundo dados recentes do Ministério do Trabalho, existem hoje trabalhando no Brasil cerca de 70 mil engenheiros estrangeiros. Nenhuma gritaria foi feita. Neste caso, trata-se de petróleo e outros projetos, muito lucrativos para as transnacionais. Mas quando se trata de salvar vidas, acendem-se todas as fogueiras do inferno da nova inquisição contra uma cooperação que é lógica e indispensável, solidária e humanitária. Por que é aceitável a importação de telefones, equipamentos médicos, remédios, cosméticos, roupas, caviar, bebidas, vacinas e não se aceita a cooperação de médicos de Cuba, sendo este o único país em condições objetivas de apresentar-se prontamente e de maneira eficaz com profissionais experimentados? Será que as representações médicas brasileiras possuem sequer uma remota ideia de que estão proferindo insultos a esta bela história da medicina socialista de Cuba?

Quem pagará a conta da demora?
A presidenta Dilma tem inteira razão em convocar os médicos cubanos, algo que já poderia ter sido feito há mais tempo, amenizando a dor e o sofrimento de milhões de brasileiros abandonados por um sistema de saúde e por uma mentalidade de parcelas das representações médicas que, por mais absurdo que pareça, ainda tentam justificar este abandono. Aliás, com a determinação da presidenta Dilma está absolutamente revelada a importância da integração da América Latina, não havendo justificativas para que esta modalidade de integração nas esferas sociais não avance também para outras áreas, como a educação, por exemplo. Foi exatamente com o método cubano denominado “Yo, si, puedo”, que Venezuela, Bolívia e Equador são países declarados pela UNESCO como “Territórios Livres do Analfabetismo”, sempre com a participação direta de professores cubanos. Muito em breve será a Nicarágua, que vai recuperar aquele galardão, que já havia conquistado durante a Revolução Sandinista, mas depois perdeu na era neoliberal. Por quanto tempo o Brasil terá apenas projetos pilotos, em apenas três cidades, com o método de alfabetização cubano que, aliás, já tem absoluta comprovação e reconhecimento mundiais? Que espera a sexta economia do mundo em convocar ainda mais a cooperação cubana para erradicar o analfabetismo? Quem pagará a conta desta injustificável demora? Como diz a canção de Pablo, será paga pela unidade latino-americana. Pero, cuantas vidas puede custar?
Termino com a declaração da Dra. Milagro Cárdenas Lopes, cubana, negra, 61 anos: “Somos médicos por vocação, não nos interessa um salário, fazemos por amor”, afirmou. Em seguida, dirigiu-se com seus companheiros para os ônibus organizados pelo Exército Brasileiro, que cuida de seu alojamento. Sinal eloquente de que a integração está escrevendo uma nova página na história da América Latina.

Beto Almeida é diretor da Telesur.

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