terça-feira, 18 de junho de 2013

Fora Cabral!!!

Polícia do Rio errou ao não dialogar com manifestantes, dizem especialistas

Manifestante segura placa da rua da Assembleia, durante os protestos nos arredores da Alerj, no Rio.
Programados via redes sociais, os protestos que tomaram o Brasil nesta segunda-feira (18) surpreenderam pelo tamanho e, em alguns locais, pela violência, caso do Rio de Janeiro, onde 100 mil pessoas tomaram o centro da cidade e ao menos 31 ficaram feridas; dois manifestantes seguem internados devido a ferimentos causados por armas de fogo atribuídos a polícia.
Imagens mostram ainda policiais militares atirando para cima com fuzis. Para os especialistas, a ação mostra falta de preparo da polícia e do governo, que erraram ao não dialogar com os manifestantes e buscar organizar o protesto.

"Hoje tem uma manifestação em São Gonçalo, amanhã em Niterói e quinta outra no Rio. O que se esperaria das autoridades depois de ontem? Identificar os responsáveis, negociar como vai ser a concentração e ação da polícia. É o básico", afirma o antropólogo e coordenador do departamento de segurança pública da faculdade de direito da UFF (Universidade Federal Fluminense), Lenin dos Santos Pires. "Na massa que um protesto com 100 mil pessoas reúne tem de tudo. A polícia não pode esperar a ação de provocadores para então reprimir."

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Protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo

Manifestantes se reúnem na Praça da Sé, no centro de São Paulo (SP), na tarde desta terça-feira (18), no sexto dia de protestos. A manifestação que começou contra o aumento das passagens de ônibus, trem e metrô na cidade, organizado pelo Movimento Passe Livre, abraçou outras causas. O protesto realizado na noite desta segunda-feira (17) reuniu mais de 60 mil pessoas na capital paulista e foi pacífico por quase todo o trajeto. No fim da noite, um grupo tentou invadir o Palácio do Governo, na zona sul, e foi reprimido pela polícia Sebastião Moreira/EPA
Pires lembra ainda o despreparo da polícia e considera que houve uma falha do governo. Para ele, o país ainda está longe do modelo de polícia de inteligência e, tanto no Rio quanto em outros Estados, a PM é treinada para fazer a segurança de Estado e não a segurança pública. "Se a polícia não tem uma atuação repressiva ela não pode ter outra ação? De proteger os manifestantes e o patrimônio?", questiona, ao lembrar que a truculência vista nos protestos não é a forma como a polícia age em outros contextos, em especial na periferia.

Para o especialista em gerenciamento de risco Carlos Camargo, é fundamental o que o governo adote um sistema de monitoramento de mídias sociais e busque uma ação integrada. "É preciso monitorar Twitter, Facebook, saber quando vão ocorrer as manifestações e se preparar para isso. Decidir em conjunto com todos os órgãos se aumenta o tempo de sinal num ponto, fecha a água em outro, coloca mais ou menos policiais", diz. "Isso não foi um levante local, mas organizado nacionalmente. É preciso ter racionalidade."

Em entrevista coletiva nesta terça (18), o coronel Frederico Caldas, porta-voz da Polícia Militar do Rio de Janeiro, afirmou que as imagens divulgadas nesta manhã de policiais atirando para o alto com fuzis e revólveres durante o protesto que reuniu cerca de 100 mil pessoas no centro da capital fluminense na noite de segunda (17) demonstram que não havia "objetivo de atingir quem quer que seja". Segundo ele, apenas a perícia da Polícia Civil determinará se algum dos feridos por arma de fogo foi atingido por algum policial.

Mais protestos

Uma nova manifestação está marcada para a tarde de quinta-feira (20), no centro do Rio. O protesto desta segunda-feira (17) levou 100 mil pessoas ao centro do Rio de Janeiro e acabou em conflito com a polícia depois que um grupo tentou invadir a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Os manifestantes reclamam do aumento de R$ 2,75 para R$ 2,95, cujo reajuste entrou em vigor no dia 1º de junho.

ANÁLISE

Especialistas reconhecem que internet dá força, mas não é principal agente dos protestos
Josias de Souza: Políticos vivem psicose do que pode acontecer
Fernando Rodrigues: Movimento está divorciado dos políticos tradicionais
Clóvis Rossi: A vaia saiu às ruas
Janio de Freitas: Ideia terrorista

Durante a tentativa de invasão, um coquetel molotov foi lançado em direção ao edifício e atingiu a porta da Alerj. Policiais militares utilizaram balas de borracha, bombas de gás e spray de pimenta na tentativa de dispersar os manifestantes, mas acabaram entrando no prédio, onde passaram algumas horas como reféns. Por volta das 23h15, a Tropa de Choque retomou a Alerj e resgatou funcionários da Assembleia e cerca de 70 PMs, entre eles 20 feridos.

O presidente da Alerj, deputado Paulo Melo (PDMB), estimou que o prejuízo causado na sede do Legislativo fluminense foi entre R$ 1,5 a R$ 2 milhões. Segundo Melo, 30% dos vidros franceses da parte de trás do prédio e várias vidraças dentro do Palácio Tiradentes foram quebradas pelos manifestantes. O mobiliário no salão nobre da casa também foi danificado. Além do prédio da Alerj, também ocorreram atos de vandalismo no Paço Imperial e na Igreja de São José, que ficam no entorno.

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