quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Vazamento mancha sonhos de enriquecimento do Brasil com petróleo


O vazamento de petróleo em um poço em águas profundas da Chevron Corp. ao largo da costa do Rio de Janeiro este mês provocou indignação local e ameaças de prisão para os executivos da empresa americana. A mancha negra também serviu para lembrar que o plano do Brasil de alcançar a prosperidade através do petróleo pode ser mais caro – e mais difícil – do que muitos aqui esperavam.
O vazamento de meados de novembro no campo do Frade foi estancado depois de despejar 2.400 barris de petróleo no mar – uma gota se comparados aos 4,9 milhões de barris que, estima-se, jorraram no Golfo do México no ano passado, quando a plataforma Deepwater Horizon explodiu num poço da BP PLC. No caso do Brasil, a mancha de óleo não deve alcançar a costa, segundo autoridades locais, e a película reluzente que ficou na superfície do mar está se dissipando.
Mas as consequências para a Chevron – e talvez para todas as grandes petrolíferas no Brasil – não estão diminuindo. Esta semana as autoridades brasileiras suspenderam todas as operações da Chevron no país, e há várias agências governamentais na fila para aplicar multas. O total chega a de cerca de US$ 80 milhões até agora, mas pode aumentar. A Polícia Federal brasileira está tratando o vazamento como uma possível cena de crime, e o ministro do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, sugeriu que a Chevron pode ser expulsa do Brasil.
O diretor de operações da Chevron no Brasil, George Buck, compareceu a uma audiência no Congresso nesta semana para destacar o desejo da empresa de permanecer no país. Falando através de um intérprete, Buck ofereceu aos legisladores "sinceras desculpas ao povo brasileiro e ao governo brasileiro".
A Agência Nacional de Petróleo acusou a Chevron de negligência e de não fornecer informações sobre o vazamento às autoridades. A Chevron deve suspender seus trabalhos no Brasil até que a investigação seja concluída. Em seu depoimento, Buck disse que a Chevron agiu rápido e foi transparente. A empresa informou que o vazamento foi causado por um aumento na pressão do poço. A Chevron opera o campo petrolífero de US$ 3 bilhões juntamente com as parceiras minoritárias Petróleo Brasileiro SA e Frade Japão Petróleo Ltda., esta última uma sociedade entre as japonesas Inpex Corp. e Sojitz Corp..
Os derramamentos de óleo provocam repulsa em todo o mundo. Mas o vazamento da Chevron também está atingindo uma área sensível no Brasil, como o primeiro sinal do lado sombrio da descoberta, de 2008, das maiores reservas marítimas encontradas no Ocidente em décadas. O fato de que a Chevron perfurou o poço com equipamento da Transocean, dona da Deepwater Horizon, aumentou a ansiedade no país.
Até agora, o único debate público sobre os planos do Brasil de tornar-se um dos maiores produtores mundiais de petróleo dentro de dez anos tem se focado em como gastar essa receita inesperada. A maior descoberta, o campo Lula, ao sul do Frade, tem cerca de 6,5 bilhões de barris de petróleo. O campo foi rebatizado em homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia descrito a riqueza petrolífera do Brasil como uma chance de erradicar a pobreza, melhorar a educação e financiar indústrias criadoras de emprego, como a construção naval, nesta nação sul-americana ainda pobre.
"O problema é que o processo foi completamente politizado, com menções de que isso resolveria todos os problemas sociais do Brasil. A realidade é que extrair o petróleo das profundezas não vai ser tão barato nem tão fácil como o governo já sugeriu", disse Adriano Pires, que dirige o Centro Brasileiro de Infraestrutura, firma de consultoria de combustíveis.
O petróleo é a peça-chave em um esforço amplo de impulsionar o crescimento através do desenvolvimento de vastos recursos naturais. A controvérsia sobre os custos, ambientais e outros, pode crescer à medida que esses planos sejam concretizados. Este mês o Congresso brasileiro está debatendo um plano para relaxar os códigos ambientais em benefício do agronegócio brasileiro. Enquanto isso, grupos indígenas da Amazônia protestam contra os planos de construir dezenas de usinas hidrelétricas em seus rios.
Sem dúvida, o Brasil não é novato no petróleo nem nos acidentes. Em 2001 uma plataforma petrolífera que na época era a maior do mundo afundou no litoral do Rio, arrematando uma maré de azar para a Petrobras, que teve dois acidentes consecutivos – um vazamento de 1,2 bilhões de litros em uma baía do Rio e o dobro disso em um rio da região sul. Mas as exigências estão mais rigorosas desde então e muitos creem que os derramamentos de petróleo são coisa do passado. A Petrobras, sócia minoritária no campo acidentado da Chevron, é classificada hoje entre as melhores empresas do mundo na exploração em águas profundas.
Mas as grandes descobertas em águas profundas ocorridas no Brasil desde 2006 representam um novo nível de complexidade. A maior parte do petróleo recém-descoberto jaz vários quilômetros abaixo do mar, sob uma camada de rochas e uma grossa camada móvel de sal, marcando uma fronteira relativamente nova na perfuração marítima - perfurar através dessa camada conhecida como pré-sal raramente foi feito. Por ocasião do vazamento no campo do Frade, a Chevron estava extraindo petróleo a 1.200 quilômetros, mais raso do que a camada pré-sal.
A Chevron faz parte de um pequeno grupo de companhias que tem licença para prospectar petróleo pré-sal no Brasil e tinha pedido permissão para prospectar petróleo na pré-sal no campo do Frade. E embora o Brasil esteja reagindo incisivamente, observadores como Pires dizem que demorou demais para a indústria e agências ambientais responderem ao vazamento, levantando dúvidas sobre se o Brasil já desenvolveu a capacidade para regulamentar a enorme exploração em águas profundas que o país vislumbra para seu litoral.
Em conversas particulares, autoridades da indústria petrolífera brasileira dizem que a dura reação do governo ao vazamento pode fazer mais mal do que bem. A possibilidade de que uma investigação da Polícia Federal possa levar a indiciamento criminal e até prisão e explusão da Chevron pode levar outras petrolíferas a pensarem duas vezes antes de fazer negócios no Brasil – ou exigir retornos mais altos para trabalhar no Brasil, segundo Pires e um representante do setor que pediu para ficar no anonimato. A reação do governo também envia um sinal irrealista para o público de que os acidentes não acontecem, disseram eles.

Fonte: The Wall Street Journal.)
(Publicado: 26/11/2011 | Zwela Angola)
 (John Lyons, WSJ -

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