VERDADES...
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA OU A BANALIDADE DO MAL
Em tempos de Cunha, Malafaia, Everaldo (o Pastor), Azevedo (o Reinaldo), Constantino, Sherazade, Gentili, Bolsonaro, Feliciano, Olavo, Lobão e outras figuras sui generes da turma do deixa disso, escolher a ingestão, em doses cavalais, de noticiários, redes sociais e colunas de jornais é o caminho do óbito. Certamente, nunca antes a ignorância andou titubeando tanto sobre a linha que separa a benção da maldição como agora.
Por vezes testo minha saúde cardíaca lendo coisas que se assemelham ao veneno para baratas: demoram para matar, mas cada aplicação vai deixando cada vez mais tonto. A lista de absurdos é longa e não vale à pena dar mais Ibope às mediocridade da turma à direita de Hitler. Vida que segue. Como disse Martin Luther King, o problema não é o grito dos maus.
Tenho acompanhado com perplexidade a marcha da ignorância, da barbárie, da hipocrisia, do retrocesso, do preconceito e do medievalismo em pleno terceiro milênio. Não se trata mais de divergir em idéias, mas sim de asfixiar os contrários com o veneno doce do moralismo e da tradição. Mas "tudo o que é sólido desmancha no ar", e a ausência de argumentos racionais fere o brio da guarda dos valores cristãos e do status quo. Aliás, ausência de argumentos não pode mais ser usado com exclusividade para definir a blitz dos Olavetes; falta humanidade mesmo.
O pior é que se tem uma coisa que o cara lá de cima distribuiu de maneira equânime foi o bom senso, porque nunca ouvi ninguém reclamando que não tem. Ai já viu né? absurdos e mais absurdos de "bom senso" despejados como verdades sacras e imutáveis. E tem mais: quem for contra a corrente corre sérios riscos de sofrer ataque moral e pessoal, e até físico, ora como não! Que tempos são esses?
Ouvi a pouco tempo de um amigo que "a política não pode ir contra a cultura". Quanto mais eu penso nessa frase mais concluo que só há duas soluções que equacionam meu problema: ou eu não entendo nada de política ou política não serve para nada. Penso que se assim fosse, ainda viveríamos uma escravidão ou algo parecido, as mulheres seriam apenas domestica(da)s e estaríamos apanhando dos militares. Ou não, vai saber.
O que penso ser inegável é que a inquisição ainda não acabou. Os valores cristãos continuam a moldar a opinião pública, a conduzir os debates políticos, a distinguir certo de errado. Elegemos um congresso que anda mais preocupado com o conceito de família do que em ajudar famílias em tempos de crise, e a musa das mil e uma noites da direita, apoia o espancamento de jovens infratores na segunda depois de ter dado "glória a deus" no domingo. E ela não é a única. Basta uma lida de dez minutos em blogs como o do homem que excita o grande Laerte Coutinho (para quem não viu, olhar blog do Reinaldo Azevedo no Veja.com), para sentirmos o tom: baixaria, degradação e insultos são a tônica. E esses são os mais lidos, os divulgados, os intelectuais do nosso tempo, os assistidos, os admirados. E nem precisa levantar a bandeira do "deus pai todo poderoso" para defender a fogueira. Bertrand Russell em seu livro Por que não sou cristão dedica um capitulo para falar "sobre os céticos católicos e protestantes". A cultura religiosa está entranhada na sociedade. Oxalá!
Decidi intitular esse texto com duas belíssimas obras que merecem ser lidas: uma do grande José Saramago e a outra da maravilhosa Hannah Arendt. Ambas se encaixam muito bem na lógica desse texto. Mas deixarei as ilações por conta de cada um. O que me cabe dizer é que nossa sociedade está acometida por um mal epidêmico, que distorce a clareza de julgamento, que macula as relações interpessoais e que desqualifica nossa espécie. A fabulosa Eliane Brum intensifica o discurso da Hannah e sugere, sobre o mal, que não é mais apenas uma questão de banalidade mas também de boçalidade. (aos interessados, pesquisar texto "a boçalidade do Mal)
Por fim, escolho receitar, tal como remédio para cardíacos, as marcantes palavras do Soldado americano Leonardo Matlovich, condecorado por sua atuação na Guerra do Vietnã e expulso por causa de sua homossexualidade. Que estas palavras sirvam de constante reflexão para que possamos vencer a cegueira e superar o mal, e todas as suas nuances, seja de banalidade ou de boçalidade.
"A Força Aérea me condecorou por matar dois homens no Vietnã e me expulsou por amar um.”
Namastê!
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