FIFA e Globo: queremos
jogar também!
O futebol é uma paixão nacional, e receber
no Brasil a Copa do Mundo despertou as mais variadas reações – todas
apaixonadas – do povo brasileiro. Infelizmente, toda essa paixão e a
diversidade de opiniões sobre o tema não tiveram espaço para se expressar nos
grandes meios de comunicação.
A mídia privada, que tem sistematicamente
cumprido um papel conservador na sociedade, tratou a Copa ora como um tema
político-eleitoral, explorando na cobertura sobre o Mundial só os aspectos
negativos e erros de condução na preparação dos Jogos, ora optando por fazer
uma cobertura ‘oba-oba' do evento. De outro lado, as críticas mais consistentes
e legítimas do movimento social às decisões do governo que favoreciam grandes
corporações privadas não apareceram nos noticiários das grandes redes!
Nada foi dito sobre os lucros
estratosféricos que o próprio setor midiático terá com a Copa e sobre a
manutenção do monopólio da TV Globo nos direitos de transmissão dos Jogos.
Vejamos:
*O negócio para a transmissão da Copa de
2014: A
Globo não informou o valor pago à FIFA para conquistar o direito de transmissão
dos jogos. Mas desde 1970 as duas poderosas fazem acordos entre si. Para a
detentora dos direitos, também não importa se o valor a ser pago é cada vez
mais alto. O retorno é garantido. Só com o que é pago pelos patrocinadores, a Globo embolsou cerca de R$ 1,44 bilhão. Adicione à conta o que
o grupo ganha com a retransmissão dos jogos para outros veículos. Tal medida
transforma a principal festa do futebol mundial num grande comércio de venda de
marcas e produtos e exclui as redes públicas de comunicação de todos os países
de poderem oferecer este produto em suas mídias aos seus povos.
*Os serviços agregados aos direitos de
transmissão dos jogos: o investimento na compra dos direitos de transmissão
também volta para a TV Globo com uma mãozinha
generosa do poder público. Um exemplo foi a festa que antecedeu o sorteio das
eliminatórias da Copa, em 2011, no Rio de Janeiro. Prefeitura e Governo do Rio
pagaram R$ 30 milhões para a Globo
comandar o evento. Entre recursos públicos e privados, o faturamento originado
por toda a divulgação da Copa chega a um valor inestimável, já que não há
transparência em sua divulgação.
*O gasto com infraestrutura de
telecomunicações e sua destinação após a Copa: os serviços de
telefonia e internet também entram nos acordos
com a FIFA. As negociações foram
feitas
para que o Brasil desse um jeito de oferecer, ainda na Copa das Confederações,
uma internet com a qualidade que o país nunca
conseguiu implantar. Essa exigência foi a justificativa
para que as operadoras de telecomunicações tivessem direito a isenções fiscais
e para que modificações na legislação
fossem
feitas, autorizando novos negócios. Tudo para oferecer uma comunicação que
esteja de acordo com o padrão FIFA. Apenas para modernização da infraestrutura
das telecomunicações e serviços e suporte às competições,
foram destinados R$ 404,56 milhões,
gasto que não foi objeto de discussão alguma com a sociedade civil. Só existirá
legado se, depois do Mundial, as redes forem ampliadas nas cidades onde
a tecnologia 4G foi instalada e se a estrutura que fica como complemento para
implantação do Plano Nacional de Banda Larga trouxer de verdade a
democratização do acesso à internet. Vale lembrar que ainda somos
mais 100 milhões de brasileiros desconectados da rede.
*Repressão às rádios comunitárias e
criminalização de ativistas: enquanto favorece os negócios bilionários
das operadoras de telecomunicações, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)
anuncia em comunicado oficial que, durante a Copa, reforçará seu aparato de
fiscalização – e repressão – às emissoras comunitárias. Em junho de 2013,
ativistas que foram às ruas para exigir direitos, principalmente o transporte,
mas também criticar gastos excessivos com a Copa, foram recebidos a balas de
borracha e spray de pimenta e parte deles foi criminalizada pela grande mídia.
Muitos profissionais de comunicação também foram feridos nas tentativas de
contenção dos protestos pela Polícia Militar.
Nossa luta é pela democratização da mídia e
pelo direito à comunicação de todos e todas!
Desde os protestos na Copa das
Confederações, diferentes coletivos de mídia, ao fazer a cobertura dos atos,
provocaram um importante debate sobre a produção e difusão de informação e
conteúdos audiovisuais no país. Ao mesmo tempo, a mídia grande foi, ela mesma,
justamente em função do histórico de manipulação da informação que tem em nosso
país, alvo de protestos em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
Tudo isso deixou muito clara a necessidade
de os diferentes movimentos sociais, organizações da sociedade civil, coletivos
e ativistas, debaterem a sério o tema das comunicações e lutarem pela
democratização da mídia no país. Na Copa e durante outros importantes momentos
da história do nosso país, o oligopólio
dos
meios de comunicação invisibiliza e tenta calar as lutas populares. Mais uma
vez é a população que está perdendo o jogo!
Por isso, o Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação convoca quem está nas ruas
reivindicando direitos e quem está nos estádios ou em frente à TV torcendo pela
seleção a lutarem por outra mídia em nosso país. Só assim construiremos um país
efetivamente democrático, onde todas as vozes possam ser ouvidas e onde o
direito à comunicação seja garantido para cada cidadão e cidadã.
Seja mais um/a na torcida por outra mídia
no Brasil! Assine o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática!
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