quarta-feira, 18 de julho de 2012

Desenvolvimento Sustentável

A energia limpa que vem do mar


O tom esverdeado das águas do mar de Olinda e Recife esconde uma riqueza ainda maior que as fileiras ondulantes dos canaviais que sustentam a economia do Nordeste desde a colonização portuguesa
Até o fim do próximo ano estará em operação, segundo anúncio empresarial, a primeira usina de produção de biodiesel e etanol, no litoral pernambucano, à base de microalgas, com aproveitamento que supera 20 vezes o do álcool extraído da cana-de-açúcar.
O uso contínuo do petróleo está prestes a esgotar suas reservas e provoca a acumulação de dióxido de cabono prejudicial ao meio ambiente, daí os esforços em toda parte para a geração de combustíveis e outras fontes de energia mediante exploração da força dos ventos, de vegetais e até de excrementos. Em vez de sujar os oceanos com os vazamentos dos poços ou dos porões de petroleiros e de se envolver em conflitos sangrentos pelo domínio das grandes reservas, como o Oriente Médio, os homens estarão voltados para atividades criativas e menos dispendiosas.
O biodiesel pode ser fabricado a partir de microalgas, substâncias microscópicas que se encontram no mar e, por se reproduzirem em elevados potenciais, submetem-se a utilização em reservatórios dotados de tecnologia criada por engenheiros austríacos e já cedida para industrialização no Brasil, sendo escolhida uma área próxima às suas mais promissoras reservas. Os especialistas são unânimes em afirmar que esse é o modo que melhor atende à demanda de combustíveis para os meios de transporte. Não são aquelas algas de aparência suja que costumam aparecer no mês de março e se estendem pelas praias para enfeiá-las, mas microrganismos dos quais só notamos a existência pela coloração esverdeada que dão ao mar.
Como a usina usará maquinário leve, movido a energia elétrica, e será abastecida por criatório de microalgas de pequena extensão e interligado diretamente, não será preciso, como na produção da cana ou da soja, empregar a forma extenuante do trabalho humano braçal. Cada unidade produtiva corresponderá a 20 usinas de álcool e o preço do combustível poderá ser muito mais barato.
Essa é uma opção bem mais sustentável, também economicamente superior à transformação energética da soja ou do milho, que exigem plantações sujeitas à periodicidade das safras e às exigências da colheita, para não falar do desvio de fontes que servem melhor à alimentação humana.
Com o litoral brasileiro imenso, desde o Amapá ao Rio Grande do Sul, não necessitaremos recorrer, como Cingapura, à técnica que usa os excrementos como fonte de energia. Os cientistas da Universidade de Nanyang inventaram vasos sanitários parecidos com os dos aviões, que eliminam fezes e urina a vácuo, lançando-as em reservatórios nos quais são conduzidos para a transformação em eletricidade e em fertilizantes. O sistema recebeu a denominação de No-Mix Vacuum Toilet e já foi aprovado para exploração comercial. Uma parte dos dejetos é recolhida nos esgotos ou nas fossas e levada para os biorreatores e a outra vai servir à fabricação de fertilizantes.
Uma vantagem suplementar desse sistema é a economia de água, pois o seu funcionamento requer 90% a menos de dispêndio do líquido que constitui hoje uma outra preocupação de escassez. As descargas nos sanitários usarão apenas 10% da água que normalmente é consumida e irão acionar o processo de transformação dos excrementos em energia limpa.
De todo modo, será cada vez mais importante evitar o desperdício de água. Não faz sentido, por exemplo, ver as barracas de praia deixando escorrer ininterruptamente água de chuveiros improvisados para atrair clientes.
São sinais, portanto, sejam as microalgas, sejam os vasos transformadores, de que a humanidade terá a oportunidade de substituir a energia poluente do carvão e do petróleo por fontes alternativas e limpas capazes de manter os índices de desenvolvimento econômico dos povos. Assim a humanidade vai em frente, menos destrutiva, mais criativa e inteligente.

Fonte: Correio Braziliense.

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