quinta-feira, 3 de outubro de 2013

COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE.

QUEM DEVE SER CHAMADO A DEPOR NA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE ?

Contribuição da Comissão da Verdade Alan Brandão (Sindipetro AL/SE, filiado a CSP-CONLUTAS) ao GT de perseguição da ditadura militar aos trabalhadores (as) e sindicalistas
As grandes empresas que se associaram aos aparatos de repressão e reprimiram, perseguiram, demitiram e entregaram para a policia uma serie de trabalhadores que lutavam contra a burguesia.
Neste sentido a Comissão da Verdade, Memória e Justiça Alan Brandão apresenta a proposta de quem deve ser chamado a depor na Comissão para o esclarecimento da Verdade.
PARA ESCLARECER A PARTICIPAÇÃO DO EMPRESARIADO PAULISTA
O próprio presidente Ernesto Geisel admitiu: “Houve muita colaboração entre o empresariado e os governos estaduais. A organização que funcionou em São Paulo, a OBAN, foi obra dos empresários paulistas[1] O almirante de esquadra Hernani Goulart Fortuna “a Operação Bandeirantes, a mais violenta da repressão, em São Paulo, (era) apoiada pela FIESP”.[2]
O escritor e jornalista Bernardo Kucinski afirmou: “Fica claro que as Forças Armadas montaram grupos de captura e extermínio reunindo matadores de aluguel, chefes de esquadrões da morte, banqueiros do jogo do bicho, contrabandistas e narcotraficantes. (...) Esses criminosos, muitos já condenados pela justiça, dirigidos e controlados por oficiais das Forças Armadas, a partir de uma estratégia traçada em nível de Estado Maior, executavam operações de liquidação e desaparecimento dos presos políticos, o que talvez explique o barbarismo das ações. Também me chamou a atenção a participação ampla de empresários no financiamento dessa repressão, empresas importantes como a Gasbras, a White Martins, a Itapemirim, o grupo Folha – que emprestou suas peruas de entrega para seqüestro de ativistas políticos -, e o banco Sudameris, que era o banco da repressão; dinheiro dos empresários jorrava para custear as operações clandestinas e premiar os bandidos com bonificações generosas”[3]
O ato que celebrou a criação da Oban foi organizado com coquetéis e salgadinhos e a presença das principais autoridades políticas de São Paulo: o governador Roberto de Abreu Sodré, o prefeito Paulo Maluf, o comandante do II Exército general José Canavarro Pereira, entre outros e figuras proeminentes da elite paulista: Luiz Macedo Quentel, Antonio Delfim Netto, Gastão Vidigal, Paulo Sawaya e Henning Albert Boilesen.
De acordo com Elio Gaspari em “A Ditadura Escancarada” o governador Roberto de Abreu Sodré cedeu espaço da delegacia na esquina das ruas Tomás Carvalhal e Tutóia, a cinco minutos do QG do Ibirapuera, para que nela fosse instalada a OBAN. Paulo Maluf, na época prefeito asfaltou a área trocou-lhe a rede elétrica e iluminou-o com lâmpadas de mercúrio. Outras necessidades foram supridas graças à coordenação de Luiz Macedo Quentel, ex-assessor de Jânio Quadros, trabalhava para a Light e empreiteiras. Delfim Neto dava palestras em almoços, no segundo semestre de 1969, no clube Paulistano em São Paulo, organizados por Gastão Vidigal, dono do Mercantil de São Paulo[4]. Ele fixou a contribuição em algo como 500 mil cruzeiros da época, equivalentes a 110 mil dólares.[5] Junto com Vidigal o presidente da Federação do Comércio, José Papa Jr., o presidente da Confederação Nacional do Comércio, Jessé Pinto Freire e o presidente da FIESP Theobaldo de Nigris, que também cedia a sede da entidade para reuniões arrecadatórias para a compra de armas modernas, trazidas dos Estados Unidos, e carros como os Galaxies blindados.[6]
O ex-governador Paulo Egydio Martins afirma que o apoio financeiro por parte de empresários conspiradores serviu para reequipar o II Exercito, dando condições para que as tropas seguissem para o sul do país, com o objetivo de enfrentar o III Exército, que sob a influencia de Leonel Brizola poderia resistir ao golpe. “Esse grupo que reequipou o II Exercito através de contribuições de empresas paulistas” [7]
BANQUEIROS
Entre os bancos que aportavam para as “caixinhas tenebrosas da repressão” estavam o Banco Itaú de Olavo Setúbal, o Bradesco de Amador Aguiar [8] e Sudameris. “Banqueiros como Amador Aguiar, Gastão Vidigal, Moreira Salles sempre foram extremamente cooperativos com o governo. Se o governo queria baixar a taxa de juros, conversava com eles e o que a gente prometia, cumpria".[9]
Bonchristiano descreve que quando montou a Polícia Federal em São Paulo, Amador Aguiar, cedeu uma ala de seu banco para funcionar lá provisoriamente e “mandou caminhões do Bradesco carregados com o que fosse necessário para montar a delegacia da Policia Federal na rua Piauí”.[10]
O mais tenebroso de todos foi Magalhaes Pinto, dono do Banco Nacional, que a partir de contatos com o adido americano e agente da CIA coronel Vernon Walters, convocou o instrutor de tortura internacional, Dan Mitrione, para treinar 10.000 homens da Polícia Militar de Minas Gerais, financiando do próprio bolso (seu e do banco) o treinamento.
Em troca quando o banco entrou em crise, mesmo com toda ajuda da ditadura, em 1986,  passou a sobreviver por 10 anos de fraudes e maquiagens bancárias, indo a falência em 1996 com um rombo de 10 bilhões de reais, coberto com dinheiro publico do Proer.
GRANDES MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Patrocinaram o golpe os Diários Associados, de Assis Chauteaubriand; a Folha de São Paulo, de Octavio Frias[11]; o Estado de São Paulo e o Jornal da Tarde dos Mesquitas[12]; as Organizações Globo de Roberto Marinho[13]; a Tribuna de Imprensa de Carlos Lacerda; e o Noticias Populares de Hebert Levy,[14] que também era banqueiro do grupo Itaú.[15] Com eles a Jornal do Brasil[16], Radio Eldorado, TN Record, TV Paulista, Jornal do Brasil, Correio do Povo.
O delegado José Paulo Bonchristiano[17] declarou que Roberto Marinho, “passava no DOPS para conversar com a gente quando estava em São Paulo”. Também afirma que podia telefonar a qualquer hora para Octávio Frias de Oliveira, dono da Folha de S. Paulo “para pedir o que o DOPS precisasse”.[18]
O documentário “Cidadão Boilesen” na mesma linha, afirma que a Folha, de Frias, cedia automóveis para serem utilizados por agentes da repressão em ações de campana, busca e captura de militantes de organizações políticas. Ações confirmadas por Élio Gáspari em seu livro “Ditadura Escancarada” [19]
O coronel Erasmo Dias garante que “o Julio de Mesquita Filho, quer dizer, O Estado de São Paulo, também as ‘escancas’ nos apoiou, não tem duvida. E outros empresários, aquele lá de Osasco, Vidigal nos apoiou nunca esconderam e o apoio para nós era importante não só informação, com estrutura, e era para nós uma participação que interessava”[20]
MULTINACIONAIS
A Ford e a Volkswagen forneciam carros[21], com eles a General Motors[22] e Mercedes Bens[23]. Investimentos vinham da Coca-cola e I.T.T e das grandes multinacionais petroleiras como: Exxon/Mobil, Royal-Dutch Shell, BP, Chevron, Conoco/Philips e Total e seus bancos associados: Bank of America, JP Morgan Chase, Citigroup e Wells Fargo, Deutsche Bank, etc.
Na Volkswagen trabalhavam 150 guardas fardados e armados sob o comando do coronel Rudge, grande amigo do coronel Erasmo Dias; na Fiat era habito entregar a delegacia de policia operários que brigavam com a chefia; na Telefunken as viaturas do Exercito ficavam no pátio; na Caterpillar os patrões avisavam os membros da Comissão de Fabrica que seus nomes estavam prontos para irem para o SNI.[24]
EMPRREITEIRAS
O Grupo Ultra e a Ultragás emprestava caminhões[25], enquanto a Supergel abastecia a carceragem da rua Tutóia com refeições congeladas.[26][27]. Teve entre seus diretores o dinamarquês Henning Albert Boilesen, presidente da Ultragaz, financiador da Operação Bandeirante, auxiliar direto de torturas, justiçado por militantes das organizações que faziam a luta armada, associado a Peri Igel que também era dono da Supergel. Hoje o Grupo Ultra é um dos maiores grupos empresariais privados do Brasil. 
Norberto Odebrecht foi fundador da Odebrecht, durante o governo de Castelo Branco, hoje ela é a maior acionista da Braskem. A Camargo Correia tinha como presidente Sebastião Camargo, que contribuía com altas somas para a assustadora caixinha da repressão. Freqüentava os jantares na casa de Boilensen.
Para desvendar a participação dos empresários paulistanos no patrocínio dos aparatos de repressão deveriam ser chamados a depor: o historiador Bernardo Kucinski; os empresários: Paulo Maluf, Delfin Neto, Paulo Henrique Sawaya Filho, Geraldo Resende Matos, Harry Shibata, Nicolau dos Santos Neto, José Papa Jr e Paulo Egydio Martins. Juntamente com os representantes das seguintes empresas: Rede Globo de Televisão, Grupo Folha, Grupo Estado de São Paulo, Wolkswagem do Brasil, General Mortors, Ford do Brasil, General Eletric, Grupo Fiat, Mannnesman, Belgo Mineira, Grupo Ultra e Ultragás, Odebrecht, Camargo Correia, Exxon/Mobil,  Royal-Dutch Shell, AMADEO ROSSI
CACHORROS
Muitos “cachorros”, gíria policial para militantes de esquerda que passavam para o lado da repressão, eram sustentados e financiados por empresas e empresários, para ilegalmente e deslealmente entregarem seus antigos companheiros.
Entre eles está, o mais famoso dos “cachorros”, responsável por cerca de centenas de delações e dezenas de mortes, Cabo Anselmo.
De acordo com o livro “Eu, Cabo Anselmo” de Percival de Souza, o próprio cabo afirma que trabalhou com “Cesar”, agente do DOPS infiltrado na VPR em Recife. Hoje ele é o delegado Carlos Alberto Augusto da Policia Civil de São Paulo, também conhecido como Carlinhos Metralha. No início dos anos 80, quando ainda transitava livremente pelo Dops, tinha ligações com o delegado Josecyr Cuoco. Com ambos existe a suspeita que manteve uma agência privada de informações que, com agentes infiltrados no movimento sindical e acesso aos relatórios do DOPS, vendia informações para clientes privados e empresas, especialmente do setor automobilístico na região do ABC. O livro de Claudio Guerra afirma que ele trabalhou junto com Carlinhos Metralha em uma empresa de segurança. [28] Anselmo admite que hoje os que o escondem são “advogados, executivos, professores, delegados, militares”[29] E cita que “As assessorias para empresas que desejavam montar esquemas mais eficientes de segurança, deixaram-no perto de pessoas com convicções políticas opostas tão fortes que jamais permitiriam, se soubessem, qualquer aproximação com Anselmo[30]
Neste caso deveriam ser chamados a depor CLAUDIO GUERRA, JOSECYR CUOCO E CARLOS ALBERTO AUGUSTO. Para se saber se são verídicas estas declarações e se são quem era esta empresa de segurança e para quais empresas trabalharam e quais trabalhadores identificaram nesta investigação. Além de informarem quais empresas sustetam o delator.
Fato como este era corriqueiro já que agentes infiltrados quando denunciados tinham seus empregos garantidos, depois da ditadura, em empresas de segurança e em multinacionais. Há casos de “cachorros” que tiveram o mesmo destino.
Como é o caso do estudante mineiro José da Silva Tavares, ou "Severino", cooptado pelo delegado do Departamento de Ordem Política Social (Dops), Sérgio Paranhos Fleury, ao ser preso pelas tropas do Exército, em setembro de 1970, na rodoviária de Belém (PA), quando tentava embarcar para Imperatriz, no Maranhão, para organizar, um foco de guerrilha rural. Menos de uma semana depois de ter sido preso, Tavares reapareceu em São Paulo, entregou a repressão Maria de Lourdes Rego e Mauricio Segall, ambos do esquema pessoal de Toledo.  Assim como o próprio Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo, ao delegado Fleury, por quem foi morto. Por causa deste cachorro também foi preso também: Viriato Xavier de Mello Silva.
Em 18 de janeiro de 2009 o jornal Estado de Minas publicou reportagem sobre o então executivo José Silva Tavares, que vive atualmente em Minas Gerais. Na época diretor “de uma das maiores indústrias do país”, “perto de uma rodovia que dá acesso ao Rio de Janeiro”. Há suspeitas que trabalha na Fiat Allis. Esta matéria mostra que o executivo “teve ajuda do Dops de Minas para limpar sua barra”. Nilmário Miranda declara que “Não resta nenhuma dúvida de que Tavares foi recompensado inclusive financeiramente pelos serviços prestados ao regime”. Para o ex-deputado federal Gilney Vianna (PT-MT), que também integrou os quadros da ALN, “Tavares se tornou o maior traidor da esquerda.? Nem o cabo Anselmo, carrasco-mor, fez tanto estrago na esquerda. O Severino sentenciou de morte não só o comandante da ALN, mas também um dos comunistas históricos do país”.
Deve ser chamados a depor executivos da FIAT para informar como a Fiat Allis empregou este criminoso ?  E saber quem escondeu sua ficha policial ? A reportagem fala de um relatório elaborado em maio de 1971, onde o delegado do Dops, em Belo Horizonte, David Haran, informa à Secretaria de Segurança Pública que Tavares não tem nenhum antecedente criminal. Assim como o próprio JOSÉ SILVA TAVARES
Outro cachorro escondido por uma grande empresa é Manoel Jover Telles, o “Rui”, destacado dirigente sindical no Rio Grande do Sul, autor de O movimento sindical no Brasil (São Paulo, Livraria Ciências Humanas, 1981, 2a edição); ex-membro do Comitê Central do PCB; ex-deputado estadual naquele estado; que no processo de ruptura do Partido Comunista do Brasil, ficou no PCB; foi expulso e entrou para o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR); e depois para o PCdoB, em 1968; era o dirigente da regional do Rio de Janeiro e membro do restrito Comite Central do partido, ao qual pertenciam 11 companheiros. Jover, mais provavelmente, se converteu em um “cachorro” do CIEx quando foi preso pouco tempo antes. Concordou em colaborar com os órgãos de repressão em troca de bom tratamento e emprego para sua filha. No livro “Operação Araguaia: os arquivos secretos da guerrilha” Taís Morais e Eumano Silva escrevem que Joffer entregou para a policia toda a história do PCdoB. Discutiu com eles o relatório de Ângelo Arroyo sobre a Guerrilha do Araguaia e afirmou que: “Minha posição os senhores já conhecem: eu acho que a guerra não se justifica. A guerra popular no Brasil é inviável”. Já Mario Magalhães no Livro “Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo” levanta a suspeita de que Joffer já era informante da policia já em 1954 quando divulga um relatório da policia de uma reunião clandestina do PCB, onde participou Marighella, na época perseguido pela policia acusado de reorganizar uma organização proscrita, relatório emitido no Rio de Janeiro pelo tenente coronel Adauto Esmeraldo, diretor da Divisão de Policia Politica e Social onde se encontra: “Sua fonte era um dirigente comunista do Rio Grande do Sul que trabalhava em sigilo para a policia (...) um dos presentes na reunião foi Jover Telles[31] Jover esteve na reunião do CC em 12 de dezembro de 1976, e a entregou para a policia, onde foram mortos Angelo Arroyo, Pedro Pomar e Carlos Drumond e presos os demais dirigentes. Em 1996 Jover se filiou ao PPB de Maluf em Arroio dos Ratos onde foi candidato a vereador. Há informes que ele e sua filha trabalharam de 1978 a 1992 na fabrica de armas Amadeo Rossi, em troca da delação dos camaradas.[32]
Deve ser chamados a depor o próprio JOVER TELLES, sua filha, e representantes da AMADEO ROSSI para informarem como empregaram este delator.
O QUE SIGNIFICAVA SUSTENTAR OS APARATOS DE REPRESSÃO PARA-MILITARES
As multinacionais e a grande burguesia brasileira não somente apoiou o golpe de 1964, mas também sustentou os setores mais nefastos da repressão durante a ditadura.
Para entender o que significa isso basta lembrar que os paramilitares tinham fazendas, sítios e bases clandestinas que serviam para torturar, seviciar, estuprar e matar.
A Casa da Morte em Petrópolis teve seu aluguel pago regularmente. O delegado Sergio Fleury arregimentou dinheiro com seus patrocinadores para comprar sitio 31 de março em Parelheiros. Onde muitos militantes foram mortos.
Em São Paulo também havia uma casa na avenida 23 de maio, e um sitio na região de Atibaia. Assim como foram denunciados um sitio em Sergipe, usado pelos órgão de segurança de Salvador; um apartamento em Goiânia; e uma casa no Recife[33]
De acordo com CLAUDIO GUERRA em seu livro “Memórias de uma Guerra Suja” afirma que: As grandes empresas financiavam também veículos e combustível. Além disso, os agentes do Estado que agiam nestes grupos ilegais, e os voluntários, receberam recompensas, gratificações, salários complementares, abonos e comissões. Os valores sempre foram secretos, mas suficientes para a independência financeira destes.[34]  Cita que tinham contas clandestinas, com nomes frios, nos bancos, onde recebiam este dinheiro, que vinham de caixinhas, como o alimentado por Boilesen, para manter o pessoal da OBAN.
Se estes agentes fossem denunciados e demitidos tinham seus empregos garantidos em empresas de segurança e em multinacionais. Há casos de “cachorros”[35] que tiveram o mesmo destino. Afinal como se pensa que sobrevive o Cabo Anselmo até hoje em seu esconderijo.[36]
Em troca estas empresas receberam benefícios do governo. Garantiam seus bons lucros e benesses fornecidas pela ditadura.

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