quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

JANOT E AÉBRIO...

Nassif: por que Janot blinda Aecím?

Ele é fiel ao eleitor e ao PiG e segue “a lei da menor porrada”
publicado 11/02/2016
se disser que foi o lula
Ilustração no Twitter de Cynara Menezes
Com a leitura do excelente Fernando Brito, o ansioso blogueiro chegou à afiada análise do Nassif sobre os fantasmas que rondam a biografia do Dr Janot:
(…) 

Janot, a grande interrogação

E aí se entra na grande interrogação: o Procurador Geral da República Rodrigo Janot.

Janot é fundamentalmente um procurador político. E não se imagine essa qualificação como depreciativa. 

(...)

Peça 5 - Janot tem pleno domínio do MPF, não apenas hierárquico como de liderança.

Ao contrário de José Eduardo Cardozo e de Leandro Daiello, delegado-geral da PF, Janot é uma liderança incontestável.

Peça 6 – Janot é PGR por voto da maioria dos procuradores.

O fato de Lula e Dilma terem tornado automática a indicação do PGR mais votado pela categoria acabou subordinando o MPF ao chamado democratismo. Em vez de responder ao Presidente da República, tornando-se corresponsável pelo equilíbrio político-institucional do país – como ocorre nas democracias maduras - o Procurador passa a responder preponderantemente para sua própria categoria.

(…)

Temos, agora, 7 peças para jogar nosso jogo de interpretar Janot.

Peça 1 indica que o vazamento reiterado de notícias obedece a uma estratégia eminentemente política.

Peça 2 mostra que essa política de vazamentos é endossada pelos procuradores que participam da Lava Jato.

Peça 5 sustenta que Janot tem pleno domínio sobre as práticas dos procuradores da Lava Jato. Sendo assim, ele não pode interferir nas investigações, mas poderia disciplinar os vazamentos, especialmente quando ficou nítido seu caráter político.

Em outras palavras, se Janot quisesse, um mero gesto de sua parte interromperia esses abusos. Como nada faz, é evidente que é cúmplice dessa política.

Mas falta saber a razão.

Peça 6 – que versa sobre o democratismo no MPF – poderia ser uma explicação.  Como a Lava Jato conferiu um prestígio inédito ao MPF, Janot teria receio de se insurgir contra seus eleitores. A corporação dos procuradores é maciçamente anti-PT e anti-Lula. É só conferir as manifestações nas redes sociais e as diversas representações de procuradores em torno de factoides plantados pela mídia.

Entregando Lula às feras, Janot satisfaria a sede de sangue da oposição – e do seu eleitorado -, mas se preservaria para defender os direitos constitucionais de Dilma, na presidência da República.

É uma hipótese, mas que fica prejudicada pelas lances seguintes.

De acordo com a Peça 4,  Aécio Neves é o principal beneficiário do jogo do impeachment, agora ou em 2018.

Aí o quadro fica mais complicado para o lado de Janot.

Há pelo menos três medidas de Janot que blindaram Aécio:

1.    Não ter transformado em denúncia ao STF a delação de Alberto Yousseff, de que Aécio era um dos beneficiários do esquema de Furnas.

Em lugar de Aécio, alvo de denúncias meticulosas, denunciou o ex-governador Antônio Anastasia, em cima de uma denúncia imprecisa. Quem conhece a política mineira sabe que Anastasia é uma figura política impoluta e insuspeita. Seu envolvimento pareceu muito mais uma maneira de Janot dar satisfações à opinião pública por ter livrado Aécio, sem submeter o PSDB ao risco de se descobrir algo contra Anastasia.

Nao foi Sergio Moro e a Lava Jato que blindaram Aecio: foi Janot. A aceitação da denúncia teria permitido à Lava Jato entrar mais cedo no setor elétrico.  

Depois disso, a PF insistiu em continuar no pé de Anastasia e Janot empenhou-se – como a nenhum outro suspeito – em derrubar o processo.

2.    Ter mantido na gaveta do PGR denúncia do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, sobre uma conta em Liechtenstein, de titularidade de uma offshore das Bahamas, tendo como proprietários familiares de Aécio, a famosa Operação Norbert, que resultou na condenação do ex-corregedor do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Carpena do Amorim.

Dois dos três procuradores autores da denúncia hoje em dia fazem parte do estado maior de Janot. No jantar de posse da Dilma, troquei algumas palavras com Janot e cobrei-lhe o prosseguimento dessa ação. No início, dizia não se lembrar. 
Depois, se lembrou e disse que daria um parecer até abril – de 2015, ou 9 meses atrás.

Em todo caso, o GGN recorreu a Lei de Acesso à Informação para saber o destino da denúncia.

3.    Ter endossado a posição dos procuradores de restringir as delações aos malfeitos do PT e da base aliada.

Faltam peças no jogo para entender essa sua posição de blindar Aécio.

A maneira quase íntima com que se dirigiu a Aécio em sua ida ao Senado – “como dizem lá no nosso estado, senador” – causou estranheza. Pode ser um tique mineiro.

Outra possibilidade seria uma estratégia política, de não pretender abrir duas frentes de desgaste, com o PT e contra o PSDB. Especialmente para não atrapalhar as relações com o maior aliado do MPF, a velha mídia. E sem a mídia, a Lava Jato morre na primeira instância.

Explica, mas não justifica, como se diz lá em Minas, conterrâneo.

Não se afasta a possibilidade do que se poderia denominar de “a lei da menor porrada”. Mostre o máximo de atrevimento possível contra quem não impõe nenhum risco de retaliação, para se poupar de ousar contra quem oferece risco.

Investir contra o governo de Dilma e Cardozo não exige nenhuma prova de coragem. Caso mirasse sua espingarda em Aécio, levaria tiros do PSDB, da mídia e da própria presidente e de seu Ministro da Justiça, que não perderiam a oportunidade de proclamar seu republicanismo.

E, por óbvio, não se pode afastar a hipótese de que esteja, de fato, articulado com o grupo de Aécio.

Permanece a incógnita da Peça 7, que alimentaria a visão conspiratória de que Janot poderia estar aliado a Dilma e Cardozo visando ajudar a enterrar a herança Lula, para dar lugar à era Dilma, tendo como bandeira a defesa intransigente da ética. Nessa versão, o crescimento da campanha do impeachment teria sido fruto da perda momentânea de controle. Nâo endosso a versão, mas tem a utilidade de trazer uma explicação para a manutenção de Cardozo no Ministério.

Lá atrás, a maneira como o MPF e a PF invadiram o escritório da presidência em São Paulo, teve como único objetivo escancarar as relações pessoais de Lula com a secretária Rosemary.

A prova do pudim de Janot

A prova do pudim será a segunda delação envolvendo Aécio com Furnas – agora, da parte de Fernando Baiano. E não se trata de vendetta ou coisa do gênero. Investigando Aécio se dará à Lava Jato sua verdadeira dimensão republicana: a de investir contra os vícios do modelo político como um todo, sem intocáveis, e não de se valer da luta contra a corrupção escolhendo lado.

E aqui vai uma historinha mineira para Janot, o conterrâneo de Aécio. 

Em 2004, houve a inauguração do PCH (Pequena Central Hidrelétrica) Padre Carlos, em Poços de Caldas. Compareceram o presidente Lula, a Ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff e o governador de Minas Aécio Neves.

Aécio era uma alegria só. No palanque, até brincou de coçar a barriga do Lula, segundo me contaram testemunhas. Achei um certo exagero, mas pesquisando nos arquivos da Folha, conferi  que o repórter mencionou os “afagos” de Aécio a Lula (http://bit.ly/20U31Au). Chamou Dilma de “conterrânea” e saudou os inúmeros mineiros que participavam do Ministério de Lula.

Por sua vez, Lula lembrou os passeios de charrete, quando foi a Poços pela primeira vez em lua-de-mel. E elogiou as PCHs, lembrando que o país tem mais de 1.500 pequenas hidrelétricas desativadas, que poderiam ser reativadas.

Vendo o entusiasmo de Lula, o PT da cidade tentou emplacar um diretor em Furnas. Escolheu um conterrâneo, técnico, apolítico, dono de vasta reputação no setor, e apresentou o nome a Lula, como sugestão para a Diretoria de Operações.

A informação que receberam é que não daria. A Diretoria de Operações já estava prometida a Aécio Neves, e seria entregue a Dimas Toledo.

A delação dos executivos da Andrade Gutierrez é o caminho. Segundo a Lava Jato, a delação visará identificar a corrupção no setor elétrico. 

Dependendo de como Dimas, Furnas, a troca de ações entre Cemig e Andrade Gutierrez serão tratados, será possível colocar no nosso jogo a peça final sobre o conterrâneo Rodrigo Janot. E será possível, finalmente, saber qual escaninho a história reservará para Janot: se a casa dos conspiradores discretos, se dos que se assustaram com a besta ou se dos que resistiram à barbárie.

(...)

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